quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Laurel ao visionário torto



Às tuas sandices –
outrora mal vistas
por velhas beatas
e membros do clero
– eu presto homenagem,
com todo o respeito
e com todo o zelo
do meu coração.

E as tuas gírias –
outrora só ditas
por loucos andejos
e vis vagabundos
– agora eu insisto
que sejam revistas.
Serão incluídas
no meu dicionário.

Teus atos insanos –
outrora coibidos
qual fossem maus modos
e temeridades
– já todos me inspiram
em seus pormenores
e elevo-os ao pódio
de gestos heroicos.

Vou tarde


Prestes a abandonar-me,
Olhei-me e tive pena
Destes olhos magoados
Que o colírio não serena.

E por não querer furtar-lhes
A esperança que perdura,
Estendi, por mais um ano,
Minha senda de amargura.

Estes olhos aguardaram
Por onze pesados meses.
Mantendo-se otimistas,
Fecharam-se raras vezes.

Mas no décimo segundo
Minhas dores são gritantes,
E retornam as ideias
Que tive um ano antes.

Deixo-vos esta missiva
Ao fim do último dia.
Senhores, não tenham pena,
Que minha dor se alivia...

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Primeira carta ao Corvo

Lamenta, Corvo!
Feio, fraco, injustiçado.
Grita alto,
porque queixar-se
é melhor que ficar calado.

Não dá ouvidos a esse povo
que diz que sofrer é bravo!
Tu não sabes o que fariam
se estivessem nos teus sapatos...

Não aceita, Corvo!
Eles te querem acorrentado.
Não lhes convém que estejas sóbrio
ou que conheça-lhes os carrascos.

São todos malfeitores, Corvo.
E te chamam de diabo!
Querem que te sintas mal,
que sejas tolo e alienado.

Sei que sangras, Corvo...
E bem sei que andas soturno.
Mas não sejas como te querem:
Sempre cego, surdo e mudo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Só de Ida


Quando as rotas cortinas da minha vidaChacoalharem-se com ventos de partida,
Hei de tocar a tua mão envelhecida,
Sinalizando-te a hora da despedida.

A tua face há de molhar-se comovida
Ao ver a minha cada vez mais exaurida;
E hei de sorrir com compreensão fingida
Para tornar mais tenra e leve a minha ida.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Eufemizo-me


E tentei me imbuir futilidades
Pra tingir, com cor de sol, meu rosto pálido;
Para não escarnecer do teu orgulho
É que tive que mostrar-me, assim, tão cálido.

Tentei, mesmo, conhecer felicidades
Que trouxessem mais vigor à rosa murcha;
E, para que não notasses que sou árido,
Envolvi todo o meu mundo em pelúcia.

Tentativas mais diversas não faltaram,
Pois, te juro, tanto tenho me empenhado;
Mas se, um dia, se romperem os veludos,
Será por tremenda força do meu fado.

Tenta, então, não me perder do teu carinho
E entende que não fui dissimulado.
Tenho culpa se procuro alegrias,
Mas tristezas já nasceram ao meu lado?

A velha porta


Peguei mania:
De rabiscar a velha porta
com pedaços de poesia...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

De brisa

Seja prece
De todo poeta que reze
Ser o pai de um poema leve

Um poema sussurrado
Suspirado
Duas estrofes pequenas...

Poema pluma
Espuma
Três palavras apenas...

Um poema sem ruído
Sem silhueta
E sem textura

Que se fareja
Só se pressente
E que não dura

Mais vento que o próprio vento
Efêmero e tão veloz
Que ofende o tempo


Sim,
É meu sonho esse poema
Qual fumaça de cachimbo
Mas, por hora, vos deixo um nimbo.